A covardia master que fomos obrigados a ver na semana passada ainda parece inacreditável aos meus olhos. Fica difícil acreditar que aquilo não foi cena de cinema, protagonizada pelo pior dos vilões. E mais difícil ainda de aceitar que aconteceu numa das capitais brasileiras mais respeitadas, a nossa capital, onde vivem pessoas tão cultas e educadas.
Pra quem não sabe, eu conto: Durante uma manifestação de ciclistas, em Porto Alegre, pelo respeito a quem usa a bicicleta no dia-a-dia para transporte, esporte e lazer, surge um carro em alta velocidade, ironicamente atropelando e jogando os manifestantes para cima como se fossem pinos em um jogo de boliche.

Estamos tão acostumados com todo o tipo de crimes. Assistir a um assalto na rua já não impressiona, presenciar a falta de escrúpulos de líderes políticos e a bandalheira que fazem com nosso dinheiro e dignidade já se tornou corriqueiro, nos trazendo aquela sensação de impotência e comodismo. “Não há mais o que fazer, está fora de nossa alçada”. Mas fica óbvio em um momento como esse, que não podemos cobrar efetivamente uma melhoria no tratamento dessas pessoas para conosco, uma vez que a população não respeita nem mesmo seus direitos mais triviais.
O motorista supostamente se entregará à polícia amanhã. O homem que, intencionalmente, decidiu que mataria dezenas de pessoas com uma simples pisada no acelerador, e que por sorte não causou mais do que alguns ferimentos leves – ou nem tanto –, tanto nos corpos quanto nas mentes das pessoas que pedalavam pacificamente por uma causa nobre. Ele se entregará, mas o que será feito com ele talvez não seja nem dez por cento do que chamamos de justiça. Certamente em breve estará dentro de seu carro novo, pronto para mais alguns strikes.
Há alguns anos votamos para decidir o destino do direito ao porte de armas de fogo. Logo precisaremos repetir o feito, só que dessa vez pelo porte de armas de rodas.
Brindemos, então, à falta de respeito pela vida!