De alguns anos pra cá é evidente que o Brasil entrou na rota dos shows internacionais. Grandes artistas e festivais tem esquentado nossa economia e possibilitando boas horas de diversão anualmente. Porém existe também, paralelamente, o que podemos chamar de cena underground. Longe dos holofotes e da mídia de massa, os eventos desse naipe têm se intensificado de forma interessante e feito com que os fans de determinados estilos de música estejam o ano todo satisfeitos com ótimas opções de shows.
E nessa semana fomos agraciados em recepcionar o início de uma tour pela América do Sul de duas das maiores bandas de hardcore que já tivemos na história. Estamos falando da tour entre Comeback kid, que são um dos principais expoentes do hardcore contemporâneo, e o majestoso Sick of It All, simplesmente um ícone no estilo, tocando há quase três décadas consecutivas.

Para o início do show, que ocorreu no Carioca Club – casa bem requisitada nos últimos meses para shows do gênero –, a banda escolhida  foi a dos paulistas do One True Reason. Os caras possuem uma sonoridade muito boa, com bastante peso e uma levada interessante. Não fosse o vocal muito “limpo” para o estilo da banda, ela teria animado ainda mais a galera que já estava presente. Ponto positivo pro pessoal que acompanhou a banda em cada música, cantando e apoiando, enfim fazendo a festa logo no início!
Findada a apresentação dos caras, que foi muito boa, a casa começou a encher rapidamente, já que a próxima banda a subir no palco seria nada menos que os canadenses do Comeback Kid. Como eu estava no lugar mais fundo da casa, sofri um pouco para ver a apresentação, mas tive uma visão privilegiada, vendo o palco como um todo. E como valeu a pena!
Bastou o vocalista entrar no palco para você entender o porque da importância daquela noite. Desde o momento em que Andrew adentrou ali até a última música, ele não parou nem por um minuto. Todas as se não me engano 14 músicas fluíram harmoniosamente, sem uma pausa pra descanso. E pra quem pensava que eles priorizariam o último álbum, a resposta foi não! Para felicidade dos fans da banda, eles tocaram as melhores músicas de cada álbum. Hits como Wake The Dead e Broadcasting foram entoados como um coro. Também houve espaço para as músicas feitas pra moshar, como Step Ahead, All In A Year e Talk Is Cheap. A energia passada no palco era incrível. Os caras possuem tanta moral que fizeram nada mais que tocar aquilo que sabiam, sem coreografias ensaiadas, gracinhas ou firulas. Puro e autêntico hardcore.
Andrew Neufeld
Andrew Neufeld, vocal do CBK
Quando eles saíram do palco todos estavam satisfeitos. As melhores músicas, uma performance impecável, um vocal rasgado e bem feito, um conjunto que jamais esquecerei. Mas o melhor de tudo é que a atração principal ainda estava por vir…
Quando o painel desceu para que os caras do SOIA preparassem suas “armas”, a casa ficou ainda mais cheia, beirando a lotação máxima. Apesar de parecer ruim, para muitos essa é a melhor forma de curtir um show desse gênero. Mas isso não importa, quem estava chegando era o Sick Of It All, a banda que pode ser considerada como um dos pilares do hardcore mundial, com 25 anos de combate!
O tempo de espera parecia não acabar mais… mas terminou! E foi para contentamento geral da nação, pois quem estava ali para ver eles realmente conhecia a banda. A prova disso foi a primeira música. Até agora me arrepio quando me lembro dela. O cara só precisou falar a primeira palavra da letra que um coro como eu nunca vi em minha vida se ergueu e gritou aquelas palavras com uma força tão incrível, tão verdadeira, que eu só pude olhar ao me redor e contemplar a alegria no olhar de cada pessoa presente ali.
Pete Koller
Pete Koller, guitarrista do SOIA
Depois disso seguiu-se quase 1h de uma verdadeira aula de hardcore. Confesso que não sou fã da banda, mas depois daquele show passei a ouvir mais o som deles, pois eles possuem uma característica única: usar o peso e a agressividade para passar uma mensagem de protesto que seja ao mesmo tempo divertida, com alegria. Só eles para conseguirem isso!
Depois desse show épico, que todas essas palavras não podem explicar de maneira alguma como realmente me senti ali, fui embora com minha galera até a Estação da Luz. Dali vim para casa usando a internet, e só quando já estava chegando foi que minha ficha caiu. Eu vi, naquele dia, duas das maiores bandas de hardcore de todos os tempos, na companhia de pessoas que gosto, num lugar maravilhoso e aproveitando cada segundo que me foi dado. Desde esse momento até agora, estou impressionado com tamanha experiência que tive nesse dia.
Vida longa ao hardcore!